Também capoeirista, Pedro Nakano quer mesmo chegar ao MMA

Alexandre Ezaki, Toyokawa (Aichi)

Segundo o coaching José Roberto Marques, zona de conforto é o nome dado, na psicologia, para o conjunto de pensamentos e comportamentos que não geram nenhum risco ou desconforto para uma pessoa. Estar apenas entre amigos e fazer sempre o mesmo trabalho, são exemplos dessa ideia.

Com certeza, o jovem brasileiro Pedro Nakano, 17 anos, não se encaixa nesse rótulo. Ele é capoeirista, campeão Europeu, Asiático e Mundial de Jiu-Jítsu e, em breve, lutador de kickboxing.

A Wikipedia define o kickboxing como um esporte de combate em pé, de contato físico, baseado em chutes e socos. No dia 1 de novembro ele estreia no esporte. A luta fará parte do 30 Shizuoka Kick Challenge e será disputada em Hamamatsu (Shizuoka), num ringue armado próximo à estação central.

Pedro durante treino de kickboxing (Foto: Cedida)

¨Comecei a treinar em maio. Mas meu objetivo é chegar ao MMA (Mixed Martial Arts). Como não poderia ir direto, começo pelo kickboxing, onde vou aprender ‘trocação’, que seria a troca de socos, algo que não acontece na capoeira e nem no jiu-jítsu¨, explica Pedro.

Os treinos são realizados na Salles Vale-Tudo, em Toyohashi (Aichi). Pedro diz que o professor Sandro Salles elogiou a base de luta agarrada dele, e que realmente falta aprimorar a trocação.

Para o combate do dia primeiro, Pedro está tranquilo: ¨Pretendo vencer e vou dar o meu melhor. Mas não vou me decepcionar se perder. Quero pegar experiência¨, afirma.

Capoeira

Pedro nasceu em Mogi das Cruzes, interior do estado de São Paulo, mas quando tinha um ano de idade veio ao Japão com os pais, Rafael e Rafaela. A família mora atualmente em Toyokawa e o jovem cursa o 2 ano do Ensino Médio na escola Cantinho Brasileiro, em Toyohashi.

O lutador junto com os pais (Foto: Cedida)

O lutador brasileiro até tentou jogar futebol, mas não levava jeito. Aos 8 anos assistiu a uma apresentação do grupo Memória Capoeira, coordenado pelo contra-mestre Robô, se encantou e logo entrou para o grupo. Começava aí a relação diária de Pedro com esportes.

A capoeira é uma expressão cultural tipicamente brasileira que mistura luta, esporte, cultura popular, dança e música. Em novembro de 2014, ela recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.

¨Achei a capoeira incrível, peguei as coisas rápido e sempre me destaquei. Desde 2019 sou Estagiário, ajudo nos treinamentos e apresentações, e sou corda preta¨, conta Pedro.

Na capoeira, todos os praticantes ganham apelidos, pelos quais são chamados nas rodas. E o dele é Dunga.

Apresentação do grupo Memória Capoeira (Foto: Cris Ezaki)

Em relação às cordas, Pedro explica que cada grupo tem o sistema de graduação. No Memória Capoeira, os alunos passam por várias: crua (branca), crua e verde, verde, crua e amarela, amarela, crua e azul, azul, crua e preta e preta.

Pedro conta que existe muita coisa por trás do jogo da capoeira, como conhecer a história e tocar os instrumentos como berimbau e pandeiro. ¨O que começou como brincadeira só cresceu. Vivo capoeira o dia todo. Ela é uma das maiores referências brasileiras¨, diz.

Um dos campeonatos que marcaram essa história de capoeira foi em 2018, quando Pedro conquistou o primeiro lugar do WCCJ, em Quioto (Quioto).

Jiu-Jítsu

Mas ele queria mais desafios e o envolvimento com o jiu-jítsu começou meio que por acaso. A família mora no mesmo prédio em que residem os professores Rogério de Cristo Filho e Márcia Makiyama Cristo, da Evox Brazilian Jiu-Jítsu.

Após um convite do sensei, Pedro decidiu conhecer a academia e a luta. Ele tinha 11 anos, e não saiu mais.

Pedro é Campeão Mundial de Jiu-Jítsu (Foto: Alexandre Ezaki)

A graduação no esporte segue um sistema mundial. Na categoria adulto são cinco faixas: branca, azul, roxa, marrom e preta. Porém por causa da idade, Pedro teve que passar pelas faixas infantis: cinza, amarela, laranja, verde e hoje, usa a faixa azul. ¨Mas desde os 13 anos, quando usava a laranja, já lutava entre os adultos¨, lembra.

Campeão Mundial

Foi no jiu-jítsu que ele conseguiu o maior reconhecimento profissional. Os principais títulos vieram em 2019. Em janeiro conquistou o Campeonato Europeu pela IBJJF, considerada a maior confederação de jiu-jítsu, em Portugal.

Em junho, lutando nos Estados Unidos, venceu as três lutas e tornou-se Campeão Mundial da categoria faixa azul, também pela IBJJF.

E em setembro, lutando em Toquio, pela mesma federação, conquistou dois títulos: Campeão Asiático (peso 69 kg) e Campeão do Absoluto. ¨Para mim, 2019 foi o grande ano¨, destaca Pedro.

Este campeonato foi mais especial ainda. Além dele, o companheiro de academia, Danilo Hamazaki, foi Campeão Asiático (peso 74 kg) e Campeão do Absoluto. Com a soma dos resultados dos dois jiujiteiros, a equipe Evox BJJ conquistou o título de Campeã Asiática Juvenil (16 e 17 anos).

Pedro ganhou os principais campeonatos em 2019 (Foto: Alexandre Ezaki)

Depois de lutar o maior campeonato da Ásia, o atleta machucou os dois joelhos, fez fisioterapia mas não disputou nenhum torneio.

E neste ano de 2020, em janeiro lutou novamente o Campeonato Europeu em Portugal. Com influenza, perdeu logo no primeiro confronto e foi eliminado.

Aí veio a pandemia do Coronavírus, afetando o esporte no mundo todo e cancelando todos os campeonatos de jiu-jítsu. ¨Agora continuo treinando para, quando tudo voltar ao normal, estar pronto¨, adianta Pedro.

Com envolvimento nessas três modalidades esportivas, a rotina diária de Pedro é a seguinte: a Capoeira ele treina no final de semana, sábado e domingo; o Jiu-Jítsu, segunda, terça, quarta e sexta-feira, além de sábado; e o Kickboxing, quinta-feira e domingo.

Sem arrependimentos

Mas para treinar e participar de tantos campeonatos os custos são altos, que são pagos pelos pais do lutador e por patrocinadores, que ele faz questão de citar: Haga (kimonos, roupas e bolsas), Kekoa Collective (roupas), Ume Pneus, Mendes Seguros, Adi Supli, Ume Car Cleaning, Gym Power e Shaving & Hair Cut.

¨Por isso não me canso de agradecer aos meus pais, sempre apoiando e presentes em todos os momentos, aos meus professores e patrocinadores. Todos são muito importantes¨, destaca Pedro.

Indagado, o atleta garante que não tem preferência entre os três esportes que pratica porque, afirma, um complementa o outro.

Pedro sonha alto e se dedica ao máximo (Foto: Alexandre Ezaki)

E apesar de levar uma vida regrada, diz não ter arrependimentos: ¨Eu já abri mão de muita coisa. Não bebo, não fumo, não frequento baladas. Mas não me arrependo de nada. Meu corpo é meu trabalho. Por isso cuido dele¨, afirma o lutador.

E quanto ao futuro, ele já fez a escolha e quer continuar estudando e se profissionalizar no esporte. ¨Quero chegar no topo e viver disso. Quero poder acordar e fazer o que eu amo¨, finaliza Pedro.

A história do atleta Pedro Nakano faz parte da seção permanente do site Gaijin News: a série Escolhas. Vamos trazer reportagens especiais com estrangeiros que, ao escolherem caminhos diferentes, tiveram suas vidas transformadas. E também mudaram a vida de outras pessoas.

Se você conhece alguém que se encaixa nesse perfil, e quer ver essa história contada em nosso site, entre em contato conosco pelo e-mail: contato@gaijinnews.com.

Alexandre Ezaki é jornalista formado pela Unesp de Bauru. Adora filmes, séries, músicas e esportes. Como profissional, considera-se um contador de histórias.