Atração principal do BR Day Hamamatsu, Saulo levou às lágrimas os presentes

 

As respostas à pergunta feita pelo jornalista Alexandre Ezaki, editor do Gaijin News, acerca dos sonhos pessoais e profissionais, levaram às lágrimas alguns dos profissionais da mídia presentes à Coletiva de Imprensa do Brazilian Day Hamamatsu, realizada no domingo, 17, último dia do evento.

Compuseram a mesa o responsável por toda a festa, Mário Makuda, da Promotion Brasil; o embaixador do Consulado Geral do Brasil em Hamamatsu, Aldemo Garcia; o apresentador Jhony Sasaki; e as atrações musicais Del Feliz, Joe Hirata e Saulo Fernandes. Todos os trabalhos foram dirigidos pelo jornalista e Assessor de Imprensa, Silvio Mori.

A festa brasileira teve apoio do Gaijin News.

Mas antes dos momentos mais emotivos, vamos saber como foi a Coletiva de Imprensa.

MC Jhony

O primeiro a falar foi o MC Jhony Sasaki, apresentador do BR Day, ao lado de Isabella Martins.

 

O jornalista Silvio Mori com os músicos (Alexandre Ezaki)

 

Ele falou da importância da união de todos para realizar um evento tão grande. ¨Este BR Day é especial para a gente celebrar a vida¨, começou o apresentador.

Durante 27 anos ele morou no Japão e por 12 anos apresentou um programa semanal, que ajudou a criar um vínculo com a comunidade. E a forma dele agradecer é a atuação política.

Vereador da cidade de São Vicente, há tempos ele luta pelo visto para yonsei, a quarta geração de descendentes de japoneses. Agora, atua também pelo visto de Work Holiday. ¨Independente da ascendência ou descendência, todos devem ter o direito de vir trabalhar no Japão. Isso ajudará a difundir a cultura japonesa no Brasil, e a aquecer a economia japonesa¨, disse.

Em relação à liberação do visto para yonsei, defendeu: ¨Nunca vi no Brasil falar para o japonês de determinada descendência voltar para o Japão. O governo japonês deveria olhar com mais atenção para nós. É assim que eu tento retribuir todo esse carinho que recebo¨, finalizou.

O Cônsul complementou dizendo que vem pressionando o governo japonês, que já se mostrou favorável à solicitação.

Coordenação geral

Mário Makuda é o organizador do BR Day e contou sobre a festa deste ano, que foi focada nos 115 anos da imigração japonesa no Brasil.

¨Através da música e da culinária, podemos aproximar os japoneses dos brasileiros¨, refletiu, lembrando de algumas atrações conhecidas pelas duas nacionalidades, como o Pagode do Ramos, ex-atleta da seleção japonesa, Lisa Ono, uma das maiores divulgadoras da Bossa Nova e Kazufumi Miyazawa, japonês que já esteve mais de 20 vezes no Brasil.

Mais de 200 artistas procuraram a organização para se apresentar, mas não havia tempo suficiente para todos.

Makuda agradeceu ao Paulão Silva pela direção de palco, que organizou para que durante os três dias todos os públicos fossem atendidos.

Artistas e autoridades presentes ao BR Day receberam o troféu ¨Reconhecimento pela Promoção Cultural entre o Brasil e o Japão¨, reforçando a união entre os dois países.

Consulado

Considerado por muitos como o criador do BR Day Hamamatsu, o embaixador Aldemo Garcia lembrou de como surgiu a ideia.

Na época Cônsul em Canadá, depois de assistir ao Brazilian Day de Nova Iorque, realizou em Toronto o primeiro evento, já com grandes atrações, como Ivete Sangalo e apresentado por Serginho Groisman.

 

Cônsul Aldemo Garcia com as estrelas do BR Day (Alexandre Ezaki)

 

Quando veio para o Japão, no primeiro ano da pandemia, expressou a ideia mas não teve muito apoio, até que encontrou Makuda, que aceitou o desafio. ¨Em apenas 3 meses conseguimos realizar o evento ano passado. Tenho certeza que o BR Day Hamamatsu existirá ainda por muito tempo, conquistando um espaço cativo¨, previu o Cônsul.

Joe Hirata

Natural de Maringá, Joe Hirata mudou a história da TV japonesa ao ser o primeiro estrangeiro a vencer o maior e mais famoso concurso de karaokê amador do Japão, o NHK Nodojiman, em 1994.

O músico chegou ao Japão em 1988 e presenciou a rejeição de vários moradores de Hamamatsu contra os estrangeiros, expressada numa passeata que tinha uma faixa, em português, escrito ¨Estrangeiros caiam fora¨.

¨Através da música temos uma forma de mostrar o nosso valor. O que vocês conseguiram com essa festa, revertendo a imagem dos brasileiros e trazendo muitos japoneses, é de grande importância¨, exaltou.

Ele ainda falou do preconceito em relação ao descendente de japonês no Brasil, apesar de algum avanço percebido na área cultural.

¨Na música, ainda, eles me olham e se assustam quando percebem que eu canto em português. Acho que a mídia poderia nos olhar como cidadãos brasileiros¨, criticou.

Del Feliz

Considerado o padrinho do forró brasileiro, Del Feliz já esteve no Japão outras vezes, mas se apresentou pela primeira vez no Brazilian Day Hamamatsu.

Com 23 anos de carreira, ele viaja o mundo levando a música nordestina e defendendo a sua valorização.

¨Fico impressionado com a paixão dos japoneses pelo nosso forró. Nessa festa, podemos construir muitas coisas especiais¨, defendeu.

Ele lembrou da apresentação ao lado do grupo Flor de Juazeiro, composto por mulheres japonesas que tocam forró. ¨Fiquei muito emocionado. Isso alerta que precisamos quebrar alguns paradigmas, para recebermos o outro, receber outras influências, para manter as raízes. Devemos nos abraçar e construir o novo¨, destacou.

Sonhos

O músico baiano Saulo começou a carreira aos 10 anos, em um trio elétrico. Em 2002 assumiu a liderança da Banda Eva, com a qual ficou 11 anos.

Em carreira solo procura explorar as raízes baianas e africanas. E nessa trajetória, várias foram as dificuldades.

Por isso, quando perguntado sobre sonho, trouxe emoção e choro para a coletiva.

Ele começou lembrando de uma conversa com Makuda, que lhe disse que ele iria cantar para uma comunidade batalhadora, que trabalha duríssimo, e que por isso seria uma missão. ¨É muito mais profundo. O show pode levar a esperança de dias melhores¨, analisou.

¨Eu vivo o sonho até hoje. Um dos maiores sonhos da minha vida era vir ao Japão. Já peço isso ao universo há muito tempo. Sou casado com filha de japoneses e quero que meus filhos conheçam seus ancestrais e sua história¨, contou.

O músico lembrou de um encontro no dia anterior, com uma família de japonesas, Mika, cujo nome é em homenagem a Vinícius de Moraes, e a mãe dela.

¨Cantamos chega de saudade no meio da rua. E ela cantou a música inteira sem saber falar português, como se explica isso, indagou.

No vídeo postado no Instagram, ele escreveu: ¨Foi um dos momentos mais lindos da minha vida.¨

 

 

 

Cheio de energia e sentimentos, Saulo acredita que tem uma missão. ¨A música é gigante, muito maior que qualquer coisa e que qualquer um de nós. Estamos sendo usados para algo muito maior.¨

Del Feliz também quis se pronunciar. Lembrou da infância pobre com a família e o exemplo da mãe, dona Nicinha.

¨Todo passo que dou na minha vida, a sensação que tenho é que estou levando minha mãe pra cantar comigo ou que ela está me trazendo para cantar. É um sonho eterno na minha vida, poder dar sequencia ao ensinamento maravilhoso de minha mãe, que morreu há dois anos¨, se emocionou.

Del contou que a primeira canção escrita foi para a mãe, ¨dona Nicinha, minha maior fonte de inspiração¨.

Joe Hirata complementou.

Ele sempre teve o sonho de ser cantor e veio em 1988 ao Japão com esse objetivo. Trabalhando na fábrica, escreveu uma letra em homenagem à mãe, cujo tema principal era a lembrança.

Infelizmente a mãe faleceu, pouco antes do músico poder voltar ao Brasil, quando então iria trazê-la para o Japão.

¨Mas não sonhe apenas. Corra atrás. Estude, saia da rotina do trabalho e busque forças¨, ensinou.

Música

Falando do show que iria apresentar de noite, Saulo disse que queria que as pessoas se sentissem no carnaval da Bahia. O que realmente aconteceu depois.

Para ele, a música da Bahia tem vários ritmos. ¨Tudo que envolve essa música vou tentar trazer para o show. Quero que as pessoas saiam suadas e o coração sorrindo, sentindo gratidão, todas as coisas deliciosas que gostamos de sentir. A música da Bahia causa isso e tenho maior orgulho de fazer¨, falou.

Ele lembrou as origens africanas da música baiana e falou até de funk. ¨Assim como a música da Bahia, vem da música de terreiro, a batida tem a mesma origem. Tenho maior respeito pelo funk, que se origina do mesmo lugar que a minha música, dos guetos¨, avaliou.

Mori San

O japonês Mori adora o Brasil e o músico Saulo.

 

Saulo e Mori San num abraço afetuoso (Alexandre Ezaki)

 

Ele veio da província de Kobe para Hamamatsu, onde encontrou Mika e a mãe dela, que são de Tóquio.

E da capital japonesa, ele recebeu uma mensagem do japonês Willie, proprietário do famoso Bar Aparecida, dizendo que muitos amigos japoneses iriam assistir ao show de Saulo, que, emocionado, já estava chorando.

Em 2010 Mori foi para o carnaval de Salvador. Passou dez dias, porém três deles com uma forte dor de barriga. ¨Mas eu estava tão feliz que poderia até morrer¨, brincou.

Feliz e agradecido por estar ali, junto ao ídolo, agradeceu num bom português: ¨Muito, muito obrigado¨, afirmou.

Ainda em prantos, Saulo agradeceu ao Mori San: ¨Gratidão é um sentimento, quando você se sente genuinamente feliz. Agradeço muito por ouvir isso. É inacreditável ouvir tudo isso.¨

 

 

O músico fez questão de postar no Instagram esse encontro.

E escreveu: ¨Sonho mais lindo da vida. Coração tão grato.¨

Gratos ficaram todos os brasileiros que tiveram a oportunidade de participar do Brazilian Day Hamamatsu 2023.