Ele alega problemas de saúde; começa a corrida para escolha do novo líder

Alexandre Ezaki, Tóquio (Aichi)

Shinzo Abe renunciou. O primeiro-ministro do Japão anunciou na tarde dessa sexta-feira, 28, que vai renunciar ao cargo por causa de uma doença intestinal crônica que o acomete há muitos anos.

Foram 7 anos e 8 meses como líder do governo japonês. Apesar de ser o recorde de permanência no poder, ele deixa o cargo sem atingir seus principais objetivos, como uma emenda à Constituição pacifista do Japão, ver as Olimpíadas de Tóquio enquanto é o líder do país, tirar a economia da deflação, assinar um tratado de paz com a Rússia e não ter resolvido o sequestro de japoneses pela Coreia do Norte nas décadas de 1970 e 1980.

“Como não estou mais em condições de responder com confiança ao mandato do povo, decidi que não deveria ficar no posto de primeiro-ministro”, disse em entrevista coletiva transmitida em rede nacional.

Abe ficou quase 8 anos no poder (UOL)

Ele permanecerá no cargo até que o substituto seja eleito. E segundo Abe, que tem 65 anos, esse é um afastamento temporário, já que ele pretende continuar a carreira política concorrendo nas próximas eleições gerais.

Colite ulcerosa

Abe tem colite ulcerosa desde que era adolescente e a vinha controlando com medicamentos. Essa doença, inclusive, foi a que o levou à sua primeira renúncia em 2007.

As preocupações com a saúde do premiê começaram neste verão e aumentaram em agosto, quando ele visitou um hospital de Tóquio por duas semanas consecutivas. Isso depois que vazaram informações de que ele havia vomitado sangue.

Para Abe, este é o melhor momento para deixar o cargo, já que o número de novos casos do Coronavírus está em tendência de queda e que acabou de aprovar novas medidas para combater a pandemia, incluindo a expansão dos testes para 200 mil por dia.

Eleições

Com a renúncia de Abe, o Partido Liberal Democrático (LDP), do qual ele faz parte, deverá realizar uma eleição para substituir o premiê. E como isso será feito deverá ser decidido na próxima terça-feira, numa reunião do partido.

Abe durante coletiva de imprensa (Foto: Reprodução)

A eleição será seguida de uma votação parlamentar para escolher o novo primeiro-ministro. E alguns nomes saem na frente nessa corrida: o vice-primeiro-ministro Taro Aso, o secretário-chefe de gabinete Yoshihide Suga e o chefe de política do LDP, Fumio Kishida, supostamente a escolha de Abe.

O vencedor ficará no cargo até o final do mandato de Abe, que seria em setembro de 2021.

Muitas críticas

Shinzo Abe foi o primeiro-ministro mais jovem do Japão em 2006, aos 52 anos, mas a primeira passagem terminou um ano depois, por causa da doença.

Em dezembro de 2012 voltou ao poder, priorizando medidas econômicas sobre sua agenda nacionalista. Venceu seis eleições nacionais e conquistou o poder com firmeza, reforçando o papel e a capacidade de defesa do Japão e sua aliança de segurança com os EUA.

Quando voltou ao cargo em 2012, Abe prometeu revitalizar o país e tirar a economia da estagnação com sua fórmula “Abenomics”, que combina estímulo fiscal, flexibilização monetária e reformas estruturais.

Nesse período ele aumentou o imposto sobre o consumo duas vezes, para 8% em abril de 2014 e para 10% em outubro de 2019.

Mas nem tudo são flores para o premiê, principalmente depois que surgiu o Coronavírus. Em agosto, uma pesquisa de opinião da Kyodo News revelou que 58,4% estavam descontentes com a forma como o governo lidou com a pandemia. A taxa de aprovação do Gabinete de Abe, que era de 62% no início do segundo mandato, chegou a 36% em agosto.

Doença obriga o premiê a renunciar (Foto: Reprodução)

A distribuição de máscaras de tecido lavável, medida considerada impopular porque elas eram pequenas demais e chegaram tarde, foi alvo de ataques.

O governo também foi criticado por cancelar repentinamente seu plano de oferecer 300.000 ienes para famílias com dificuldades financeiras em meio à pandemia e decidir dar 100.000 ienes a cada residente.

A economia está muito abalada, pois registrou uma contração anualizada real de 27,8% no trimestre de abril a junho, a queda mais acentuada já registrada devido à pandemia.

Fontes: Kyodo News, BBC, The Japan Times, Japan Today, NHK

Alexandre Ezaki é jornalista formado pela Unesp de Bauru. Adora filmes, séries e músicas. Como profissional, considera-se um contador de histórias.