Proteção pode acabar sendo vilã e causar até a morte das crianças

Alexandre Ezaki, Toyokawa (Aichi)

Em 25 de maio, a Associação Japonesa de Pediatria divulgou mensagem exigindo que crianças de até 2 anos de idade não usem máscaras. Ela alerta que isso pode causar sobrecarga no coração dos pequenos e asfixia, levando à morte.

A pediatra Ivone Meneghella (Foto: Cedida)

A mesma recomendação consta no documento brasileiro ¨Orientações Gerais: máscaras faciais de uso não profissional¨, publicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No item 3, da Contra-indicação, diz que as máscaras caseiras ou industrializadas não devem ser usadas nos seguintes casos:

  • profissionais de saúde durante a sua atuação;
  • pacientes contaminados ou suspeitos (com sintomas);
  • pessoas que cuidam de paciente contaminados;
  • crianças menores de 2 anos, em pessoas com problemas respiratórios ou inconscientes,
  • pessoas incapacitadas ou incapazes de remover a máscara sem assistência;
  • demais pessoas contraindicados pelo profissional de saúde.

Opinião da pediatra

A médica pediatra Ivone Maria da Rocha Meneguella afirma que segue as orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Anvisa. ¨As crianças menores de 2 anos não devem usar máscara devido a baixa capacidade de se adaptar ao dispositivo, tornando-o um foco de contaminação devido à manipulação¨.

Ela complementa: ¨Além disso, os pequenos são incapazes de manifestar mal-estar ou sufocamento¨.

Ivone tem experiência para opinar. Ela é Pediatra Intensivista, com residência médica em UTI Pediátrica e titulada pela AMIB. Atualmente trabalha em emergência e em Unidade de Terapia Intensiva, no Hospital Municipal de Campinas, interior do estado de São Paulo.

Apesar de proteger, menores de 2 anos não devem usar máscara (Foto: moritz320 por Pixabay)

O Ministério da Saúde do Brasil recomenda, desde abril, o uso de máscaras para conter a pandemia do Coronavírus. No entanto, o uso do item em todos é controverso. A Organização Mundial de Saúde, em documento publicado em 6 de maio, alerta que a máscara caseira ou industrializada não é capaz de prevenir novas infecções.

Para a entidade, elas são mais úteis para evitar a disseminação do vírus. “A ideia é criar uma barreira física para conter as gotículas expelidas pelas pessoas, que podem estar secretando o vírus sem de fato estarem doentes”, afirma Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria. 

Como não existe um consenso, a pediatra brasileira diz que, se possível, evite a saída com as crianças. ¨Porém, quando for inevitável, use máscara de material mais poroso ou a cobertura do carrinho. E nos bebês pequenos, cubra-os com uma fralda de algodão¨, recomenda Ivone.

Parte da cultura

A pediatra brasileira conhece bem a realidade japonesa, já que morou no país durante alguns anos. ¨Para o brasileiro, usar máscara é uma novidade, enquanto que no Japão, já faz parte da cultura da população. As crianças estão habituadas com a indumentária¨, destaca.

A médica já viveu no Japão e conhece a realidade local (Foto: Cedida)

Ela sugere ensinar as crianças a manusearem corretamente as máscaras, pegando pelas laterais. Para os adultos, Ivone recomenda as orientações dos órgãos competentes: lavar as mãos com sabão ou desinfetar com álcool gel, manter distanciamento social, usar máscaras, não visitar parentes e amigos e não permitir visitas.

¨Respeitar o próximo é a maior manifestação de amor que podemos dar neste momento de caos¨, finaliza Ivone.

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Alexandre Ezaki é jornalista formado pela Unesp de Bauru. Adora filmes, séries e música. Como profissional, considera-se um contador de histórias.