¨Quero ser campeão e fazer a diferença¨

 

O feriado do próximo 20 de setembro, uma segunda-feira, marcará de vez a vida de Alan Vítor Kudo Soares, 31 anos. Vai ser a estreia do lutador de kickboxing no K-1 World GP Japan. O campeonato será disputado na Yokohama Arena, em Yokohama, e reunirá alguns dos melhores lutadores do mundo.

O brasileiro vai em busca do título do peso meio-médio. Para chegar ao topo, ele terá três lutas pela frente. A primeira será contra o japonês Rukiya Anpo. Vencendo, segue para a próxima fase, classificatória para a grande final.

Os portões do estádio serão abertos ao meio-dia e meia, com início das lutas previsto para as 13h. Os ingressos custam entre ¥ 10 mil e ¥ 100 mil.

 

Cartaz do torneio (Foto: Divulgação)

 

¨Sempre tive o sonho de lutar no K-1 e sei que é uma oportunidade que poucos lutadores têm¨, pondera Alan. ¨Será um torneio gigantesco, em que estarei lutando com os melhores. Vai ser um espetáculo que ficará eternizado¨, completa.

Para controlar a ansiedade da espera, Alan conta que faz meditação para treinar a mente e cerca-se de pessoas boas. Ele reconhece que sente nervosismo e fica apreensivo até a luta, mas que isso serve como estímulo. ¨Treinamos para o momento do combate e quanto mais treino, mais seguro me sinto. Quando subo no ringue, passa tudo e sinto muita vontade de vencer¨, diz.

Volta ao ringue

Alan é lutador profissional há seis anos, mas ficou um ano e meio sem subir no ringue. Apesar do tempo de carreira, tem no currículo apenas 13 lutas, com 9 vitórias e 4 derrotas.

Nesse intervalo, decidiu ser treinador, mais pela vontade de ajudar aos amigos. Pesou, também, a escassez de profissionais capacitados. ¨A falta de profissionalismo de algumas pessoas me levou a ser treinador. E decidi fazer pelos meus amigos o que gostaria que fizessem comigo¨, relembra.

Mas o número de lutas foi aumentando e a falta de tempo para ele próprio o fez repensar a decisão. Com apoio do lutador Vitor Toffanelli e do empresário e campeão Danilo Zanolini, optou por voltar a lutar. E a decisão parece ter sido acertada.

 

Alan durante a luta no Hoost (Foto: Hoost)

 

No dia 11 de julho, venceu o Hoost Cup Kings Nagoya9, um torneio de renome na Ásia e promovido por Ernesto Hoost, um ex-kickboxer holandês de origem surinamesa, quatro vezes campeão do K-1 World GP. Ele participou da primeira edição do K-1 World Grand Prix, em 1993 e se aposentou em 2006.

Com a vitória, Alan se animou e abriu mão de ser treinador para investir na carreira de lutador. ¨Agora estou focado na luta do K-1 e vivendo isso intensamente¨, garante o Sensei.

Pequeno passo

A rotina dele é cansativa. Treina logo de manhã, depois trabalha na Academia Top-1, em Kani (Gifu), onde faz parte do staff e é professor, uma pausa para descanso e almoço, mais aulas e treino, com o dia terminando por volta das 23h. Porém, nada o desanima.

Alan acredita que como lutador, pode agregar várias coisas à vida pessoal e profissional. ¨É algo mais profundo e um teste para mim. O que mais motiva é isso, poder ver a reação e a vontade que gera nas pessoas¨, afirma.

Por influência da mãe, formada em Educação Física, sempre praticou esportes, como capoeira, Aikido e futebol. Mas foi no kickboxing que se encontrou. Nas poucas vezes que pensou em desistir, foi buscar no interior dele mesmo a resposta.

Sobre a estreia no K-1, sabe que é o início de uma longa caminhada, ou como ele mesmo diz, um pequeno passo. ¨O k-1 é só o começo de onde eu quero chegar. Quero fechar um contrato, que garantiria muitas portas abertas¨, afirma. ¨Quero ser campeão e fazer a diferença¨, completa.

Idas e vindas

Quem olha apenas o momento atual de Alan, pode pensar que foi fácil chegar a um dos maiores torneios de kickboxing do mundo, tendo voltado a lutar há apenas dois meses. Mas a caminhada foi longa.

Natural de Londrina, no estado do Paraná, ele veio ao Japão pela primeira vez aos 3 anos de idade. Junto com toda a família, foi morar em Seki (Gifu), mas ficava muito doente e apenas um ano depois, a mãe o levou de volta ao Brasil, onde ficou morando com uma tia.

 

Treinamento de golpe (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Ficou lá até os 18 anos. Estudou, trabalhou, praticou esportes. Na 8ª série entrou para uma escola técnica, para cursar Informática Industrial. ¨Eu achava que adorava computador, mas vi que só sabia jogar¨, brinca. Só terminou aquele ano, saiu e foi trabalhar em uma gráfica, quando aprendeu mexer com o programa AutoCAD, utilizado em áreas como engenharia civil e mecânica, para o desenvolvimento de projetos e desenhos técnicos.

Ao completar 18 anos, se alistou para servir ao Tiro de Guerra, mas como já estava com a passagem comprada para o Japão, foi provisoriamente dispensado. Quando voltasse ao Brasil, deveria se alistar novamente.

Chegou ao Japão pela segunda vez aos 18 anos, para morar com a mãe em Inazawa (Aichi). Mas como precisava do Certificado de Reservista, após um ano teve que regressar ao Brasil. Pagou uma multa de 5 reais para não ser preso, se alistou de novo, aos 19 anos, e foi recrutado para servir ao Tiro de Guerra de Londrina. Concluída a obrigação, aos 20 anos de idade retornou ao Japão, novamente para Inazawa.

Início no kickboxing

Definitivamente aqui no país, foi trabalhar em uma fábrica de autopeças. Um amigo que já havia treinado kickboxing na Academia BR Thai, de Danilo Zanolini, em Komaki (Aichi), o levou para conhecer o esporte. ¨Fiz um treino e me apaixonei. Tinha tudo que eu gostava. Comecei a pesquisar sobre o assunto, os golpes, maneiras de aplica-los¨, relembra Alan.

A academia ficava há quase uma hora de onde ele morava. Mesmo assim, saía do trabalho e ia direto para o treino, três vezes por semana, na terça-feira, na quinta-feira e no sábado. Ficou um ano nessa correria. Depois de apenas três meses de treino, e com o apoio do primeiro sensei, Rui Uehara, fez a primeira luta no kickboxing. Venceu e se sentiu mais animado ainda: ¨Queria ter começado mais cedo a praticar essa arte marcial¨, reflete o brasileiro.

Em 2013, a família decidiu se mudar para Komaki, que facilitou para Alan treinar e se profissionalizar. Assim que conseguiu a faixa verde, de instrutor, passou a dar aulas na academia. Por 5 anos, trabalhava de yakin (período noturno) na fábrica e de manhã dava aulas de kickboxing.

 

Pronto para a luta (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Há dois anos, Zanolini o convidou para assumir a Top-1, academia em Kani (Gifu). Alan aceitou, se mudou para a cidade, e agora faz parte do staff e trabalha como professor. Não foi uma decisão fácil, porque ele teve que abrir mão de um ótimo salário que ganhava na fábrica. ¨Deu medo sim, mas nunca me arrependi dessa escolha. Gosto muito de ensinar e hoje não me vejo fazendo outra coisa¨, orgulha-se.

Depois de muito treino e suor derramado, há pouco mais de um mês conquistou a faixa preta de kickboxing. Hoje ele vive com o salário da academia e tem como propósito de vida mudar a imagem do kickboxing. Motivação para isso não lhe falta.

Essa mesma vontade é que fez Alan não fraquejar diante dos obstáculos. Ele, que sempre pediu muito a Deus, mas que sempre agradeceu, deixa uma mensagem para todos os brasileiros. ¨Tenha fé, nunca desista e acredite que você pode¨, aconselha o lutador.

Que finaliza: ¨Por mais difícil que seja, não deixe de sonhar e de acreditar. E esteja sempre pronto para quando a oportunidade chegar. Ela pode não acontecer duas vezes¨.


Serviço

K-1 World Grand Prix Japan

Local: Yokohama Arena

Data: 20 de setembro de 2021 (segunda-feira, feriado nacional)

Horário: a partir das 13h

Valor: os ingressos custam de ¥ 10 mil a ¥ 100 mil ienes


Nova seção

 

A entrevista especial com o lutador Alan Soares marca a estreia da nova seção do site Gaijin News, chamada ¨Oss¨.

Segundo a Wikipédia, Oss (押忍) é uma expressão fonética polissêmica. O primeiro kanji vem do verbo 押す (osu), que significa “pressionar” ou “empurrar”, e determina a pronúncia de todo o termo. O segundo kanji vem de 忍ぶ (shinobu), que significa “suportar” ou “tolerar” e não é pronunciado.

A expressão significa, de uma maneira mais simples, “perseverança sob pressão”. É uma palavra usada em várias lutas de combate, como o karatê, o jiu-jítsu, o muay thai, entre outros.

 

Alan é instrutor na academia Top 1 (Foto: Arquivo Pessoal)

 

A transcrição exata do japonês é OSU, e a palavra OSS foi criada na escola naval japonesa para seu uso cotidiano.

Nesta coluna especial, vamos trazer entrevistas com os maiores lutadores brasileiros aqui no Japão. Esta é a forma que nossa equipe tem de agradecer a esses esportistas, que levam para os ringues, tatames e todos os lugares, a garra e perseverança do nosso povo.

Se você é um desses lutadores ou conhece alguém que se encaixa nesse perfil, entre em contato conosco nas nossas redes sociais.

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