Grupo completa 15 anos no Japão

 

Dezenas de capoeiristas de todo o Japão participaram da Troca de Graduação do Grupo Memória Capoeira, realizada dia 17 de julho no Ottowa Bunka Hall, em Toyokawa (Aichi).

Por causa da pandemia do Coronavírus, o evento deixou de ser realizado por 2 anos. E até as aulas de capoeira foram para a era digital, mas nada como a presença e a reunião de todos. ¨Esse nosso encontro é importante porque podemos nos reunir e sentir o calor humano¨, afirma Waldir Rocha, líder do grupo.

Aliás, em entrevista exclusiva ao Gaijin News, ele explicou vários aspectos da capoeira, a começar pelo apelido que todos os praticantes carregam.

Waldir é o contramestre Robô, já conhecido da comunidade, mas nem tanto pelo seu nome verdadeiro. ¨Na época da escravidão, a capoeira foi marginalizada. Então, o apelido surgiu como uma defesa dos praticantes, que evitava que fossem reprimidos pela polícia¨, explica.

 

O início do evento em toyokawa (Foto: Cris Ezaki)

 

Robõ lidera o Memória Capoeira no Japão junto da esposa, a também contramestra Pekena.

O grupo foi criado em 1985, no interior de São Paulo, nas cidades de Ilha Solteira e Pereira Barreto, pelos fundadores mestre Aranha e mestre Vavá. O primeiro nome foi Grupo Memória Brasileira, que mudou algum tempo depois.

Do interior do Estado, o Memória Capoeira se expandiu pelo Brasil e hoje está presente no Japão, Coréia, Portugal e França.

Robô começou praticar capoeira em 1990 e em 2003 desembarcou no Japão. Ficou apenas observando e planejando, até que em 3 de junho de 2007, fundou o Grupo Memória Capoeira no país. ¨Neste ano completamos 15 anos do grupo no Japão¨, comemora.

Troca de Cordas

Aqui no Japão, o Grupo Memória tem três bases, todas na província de Aichi: em Toyohashi, liderada pelo contramestre Robô; em Hekinan, coordenada pela contramestra Pekena; e em Okazaki, dirigida pelo instrutor Gigante.

 

Roda de capoeira (Foto: Alexandre Ezaki)

 

O evento em Toyokawa reuniu os praticantes de todas essas cidades, além dos capoeiristas convidados.

E se você ficou na dúvida quando leu troca de cordas, não se preocupe. ¨Troca de Graduação e Troca de Cordas têm o mesmo significado, que é quando o capoeirista alcança mais um degrau¨, explica o contramestre.

Robô apenas alerta para não confundir com o Batizado, que nada mais é do que a iniciação do capoeirista, a primeira graduação dele, que acontece a primeira vez que ele entra numa roda de capoeira.

Ele conta que a capoeira não foi criada com sistema de graduação, mas como manifestação da luta de libertação do negro contra o branco opressor. Reinventada, a introdução da graduação na capoeira foi natural.

 

Pedro e Gigante com os contramestres Robô e Pekena (Foto: Cris Ezaki)

 

A base de instrutor, contramestre e mestre é igual na maioria dos grupos. Mas o mesmo não acontece com a graduação, que varia entre eles. ¨No caso do Memória Capoeira, usamos as cores continentais para definir a graduação. As cores crua, verde, amarelo, azul, preto e vermelho vão se mesclando até o último nível¨, esclarece Robô.

Expansão cultural

O evento da Troca de Graduação durou todo o dia.

Pela manhã, cerca de 30 capoeiristas participaram do workshop de movimentação ministrado pelo instrutor Toshio dos Santos Oguihara, do grupo Capoeira Araiye.

De tarde, durante a Troca de Cordas, além das rodas de capoeira, aconteceram homenagens a três membros do Memória Capoeira.

A primeira foi a graduação do instrutor Gigante. Na maior demonstração de amor possível, ele doou um rim para salvar a vida do pai e como consequência, o contato mais forte em determinadas áreas do corpo merece cuidado. Algo bem difícil na capoeira.

O instrutor Pedro Dunga também foi lembrado. Ele busca carreira no kickboxing e passou cerca de dois meses treinando nos Estados Unidos. Por isso a presença dele no evento não era dada como certa, mas ele também trocou a graduação.

E o outro homenageado foi o instrutor Tereré. Após sobreviver a um terrível acidente e quase ter a perna amputada – o que não aconteceu graças à luta da esposa – ele também trocou a graduação, mesmo tendo se negado em alguns momentos, por não conseguir mais entregar a capoeira em alto nível.

 

Tereré com a família (Foto: Cris Ezaki)

 

Nos dois casos venceu o amor. Pelo próximo. Pela família. Pela capoeira.

O evento continuou com a apresentação do Maculelê, uma manifestação cultural brasileira, e encerrou com o samba de roda tradicional da Bahia, que juntou capoeiristas e quem estava assistindo.