¨De alma lavada¨, afirma membro do grupo do Facebook

 

No último domingo, 30, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito o novo presidente da República do Brasil. Ele venceu Jair Bolsonaro (PL), que tentava a reeleição no segundo turno das Eleições Gerais de 2022.

É a primeira vez que um ex-presidente volta ao mais alto cargo do Executivo na história do Brasil. Também é a primeira vez que um mandatário não consegue a reeleição.

Foi a disputa mais acirrada desde a redemocratização e uma campanha marcada pela polarização, uso da fé na política, graves episódios de violência armada e guerra nas redes sociais.

Com 100% das urnas apuradas, Lula teve 50,90% dos votos, com 60.345.999 votos; o perdedor Bolsonaro teve 49,10%, com 58.206.354 votos.

No exterior, o brasileiro também votou para presidente. Segundo o portal Terra, na disputa eleitoral fora do Brasil, Lula venceu com 51,28% dos votos, contra 48,72% de Jair Bolsonaro.

Entre os 696 mil brasileiros aptos a votar, 44,63% participaram do segundo turno.

 

Total de votos apurados (Arte: TSE)

 

Na Ásia e Oceania, os primeiros resultados confirmaram as tendências do primeiro turno. Na Coreia do Sul, Lula venceu com 126 votos, contra 70 para Bolsonaro. Na Austrália, os dados apontam 2.970 votos para Lula, contra 1.688 para Bolsonaro.

Na Nova Zelândia, Lula também venceu, com 353 votos. Bolsonaro ficou com 132. O petista também saiu vitorioso em Cingapura, com 231 votos. Bolsonaro ficou com 131. Na China, a vitória também foi para Lula.

Mas no Japão, assim como havia acontecido no primeiro turno, Bolsonaro venceu disparado. Ele teve 83,62% dos votos, um total de 27.640 votos. Em Nagoya, por exemplo, o presidente ficou com 84% dos votos, cerca de 3,4 mil.

Apesar da desvantagem por aqui, para Issao Nakashima, 53 anos, um dos organizadores do grupo Lula Presidente 30-10 Rumo à Vitória da Democracia (link aqui), são números para comemorar. ¨No Japão não perdemos. Pelo contrário, só ganhamos. Cada voto registrado aqui é de grande importância¨, afirma em entrevista exclusiva ao Gaijin News.

Criação do grupo

Natural de Campinas, estado de São Paulo, Issao chegou ao Japão em 1991, foi embora no ano 2.000 e voltou em 2.004, permanecendo até hoje. Morador de Hamamatsu, província de Shizuoka, é de lá que interage com vários grupos, principalmente do Brasil.

 

Issao diz que está de alma lavada (Foto: Cedida)

 

Com 16 anos, ainda um estagiário do Senai, em Valinhos (SP), ele já era sindicalizado. Sempre teve facilidade com matérias exatas, como Matemática e Física, por isso começou dar aulas como voluntário em escolas de Campinas. ¨Numa delas, fizemos a primeira greve por merenda, que na época estava sendo desviada¨, relembra.

Apesar de filiado ao Sindicato dos Metalúrgicos, berço do Partido dos Trabalhadores, nunca filiou-se ao PT.

No Japão, o envolvimento com política foi natural, principalmente a partir de 2014, com mais acesso a internet. Criou o grupo como uma página social-democrata, não do PT. Issao explica: ¨O que quero para o Brasil é o que quero para mim. Catar comida no lixo não é normal. Ajudando o Brasil a melhorar, eu também melhoro¨.

Conservador

A politização da fé foi um dos principais temas nessas eleições. Para Issao, o que aconteceu foi abominável. Ele lembra que, em campanha, Lula não foi para Aparecida do Norte nem para o Círio de Nazaré, como fez o candidato à reeleição.

Analisando a expressiva votação que Bolsonaro sempre teve no Japão, ele aponta dois fatores. O primeiro é que o eleitor brasileiro aqui no Japão é historicamente mais conservador, ¨que em grande parte no Brasil votava no PSDB e herdou essa tradição familiar¨.

E o outro motivo é a forte campanha feita contra Lula. ¨Sergio Moro e o uso político da Lava Jato serviram para manchar a imagem do presidente eleito. Que foi preso sem provas e que depois, com ajuda da Vaza Jato, viemos saber dos artifícios usados para isso¨, condena Issao.

Esperança

Comemorando a eleição de Lula, o nissei diz que tem vários sentimentos.

 

Issao e amigos no dia da votação (Foto: Cedida)

 

Para Issao, o impeachment da ex-presidenta Dilma Roussef foi um golpe; e a prisão de Lula em 2018 foi um complô. ¨Até Lula ser solto, apanhamos muito, ficamos calados, apenas sendo atacados. Agora, com o resultado da eleição e vitória de Lula, já chorei muito¨, confessa o brasileiro.

Ele fala também da esperança de um país melhor. De um Brasil com mais amor, melhor distribuição de renda e menos fome. De um país novamente com relações exteriores sustentáveis. ¨Hoje, posso dizer que estou de alma lavada¨, finaliza Issao.