ALEXANDRE EZAKI, DE TOYOKAWA (AICHI)



Em 2019, o Clube de Regatas do Flamengo foi o melhor time brasileiro. Os números e os troféus estão aí para mostrar. Em menos de 24 horas, o Clube conquistou dois dos principais títulos do futebol.

No sábado, 23 de novembro, num jogo dramático e histórico, o time brasileiro venceu o River Plate (Argentina), por 2 a 1 e sagrou-se campeão da Copa Libertadores 2019. Já no domingo, mesmo sem jogar, o Flamengo tornou-se o vencedor do Campeonato Brasileiro. Com a derrota do Palmeiras para o Grêmio por 2 a 1, o time paulista perdera a chance de alcançar o rival carioca.

Nem mesmo a derrota para o Liverpool, em dezembro passado, em jogo válido pelo título Mundial de Clubes da Fifa, parece ter abalado o amor e o respeito pelo Flamengo.

E quatro torcedores da província de Aichi estão entre os milhões de flamenguistas que só veem motivos para celebrar: Silvio Luís dos Santos, Abrahan Osamiti Yano, Aender Iqueda e Brito José. Para eles, um trecho do hino do Flamengo traduz o sentimento pelo clube: “Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”.

Uma paixão

Silvio dos Santos nasceu em São Paulo, está no Japão há 27 anos e mora em Toyokawa. Na segunda-feira seguinte aos dois títulos, dia 25, ele comemorou 47 anos de idade.

Ele conta que não teve influência de ninguém da família para torcer para o Flamengo. “Comecei assistir jogos com 8 anos, mas não sabia que era o Flamengo. Eu gostava de ver o time de vermelho e preto jogar, mas não gostava de ver a equipe de amarelo, que era a seleção brasileira”, relembra.

Para Silvio, o Flamengo é uma paixão (Crédito:Arquivo Pessoal/Cedida)

Flamenguista roxo, todos os dias acompanha as notícias do time pelos programas de esporte, canais do You Tube, internet. Entre as inúmeras lembranças, Silvio destaca uma partida entre São Paulo e Flamengo, em 1989, quando o tricolor venceu o time carioca por 3 a 0. Foi o único jogo que viu ao vivo. “Fui com amigos, mas como todos eram são-paulinos, fui sem minha camisa. Pensei o que faria se o Flamengo fizesse gol. Não sei se foi sorte ou azar, mas meu time perdeu”, brinca Silvio. ‘Tive medo do Mengo marcar e comemorar no meio da torcida do São Paulo”.

Ele é daqueles torcedores que acordam de madrugada para acompanhar uma partida e que é flamenguista na alegria ou na tristeza. “O Flamengo é uma paixão”, confessa Silvio.

Zico

O tradutor Abrahan Yano tem 56 anos de idade, nasceu em Tome-Açú, no Pará. Ele mora em Toyokawa e está no Japão há 30 anos.

Yano conta que quase foi torcedor do Fluminense, mas aos 12 anos, quando viu o craque Zico jogar, o Flamengo passou a ser o time do coração. “A televisão passava muito jogo do Flamengo e quando conheci Zico, ele virou meu ídolo e passei a admirar o futebol dele”, explica.

Yano é fã de Zico (Crédito:Arquivo Pessoal/Cedida)

O intérprete conta que o jogo que mais marcou até hoje foi a final do Mundial de 1981, entre Flamengo e Liverpool, quando o clube carioca tornou-se Campeão Mundial ao golear o time inglês por 3 a 0, com dois gols de Nunes e um de Adílio. Todos os gols tiveram a participação de Zico, que também foi eleito o melhor jogador da partida. “Esse jogo me marcou muito, afinal foi o único título mundial do Zico, e não pela seleção brasileira”, diz.

Zico mais uma vez

Natural de Ribeirão Preto (São Paulo), Aender Iqueda passou 23 dos seus 43 anos no Japão. Hoje ele mora em Gamagori, de onde acompanha tudo que puder do time carioca.

Gambá, como é mais conhecido, diz que torce para o Flamengo desde os 7 anos. “Era o time que mais via na televisão e o que mais ganhava campeonatos. Fui influenciado por isso e também pelo Zico, que jogava muito”, explica.

Aender Iqueda torce para o Flamengo desde os 7 anos (Crédito:Arquivo Pessoal/Cedida)

A partida que mais marcou o flamenguista foi a final do Campeonato Carioca de 2001, quando o Rubro-negro foi campeão. Na primeira partida, o Vasco havia vencido por 2 a 1, mas no segundo jogo o Flamengo conseguiu ganhar por 3 a 1: “Estava 2 a 1 e o Flamengo precisava fazer mais um para ser campeão. E aos 43 minutos do segundo tempo, o meia sérvio Petkovic marcou de falta. Foi demais”, relembra Gambá.

Coleção

O paulistano Brito José tem 54 anos de idade, dos quais viveu 23 no Japão. Morador de Toyohashi, Brito Black, como é chamado pelos amigos, sempre foi ligado ao futebol. Garotos, ele e o irmão fizeram teste para jogar na Ferroviária, time do interior paulista. “Nós passamos, mas como éramos de família pobre e sem condições, não pudemos prosseguir”, conta.

A relação dele com o Flamengo veio nessa época, com cerca de 12 anos: “Senti a emoção de ver todos aqueles craques jogando. Comecei a seguir o Flamengo e não parei mais”. Além de vários objetos do time, ele tem uma coleção com mais de 20 camisas oficiais.

Brito Black coleciona vários artigos do clube (Crédito:Arquivo Pessoal/Cedida)

Segundo Brito Black, os momentos mais marcantes como torcedor foram ver Zico jogar, os dois títulos recentes e o do Campeonato Brasileiro de 2009. Neste, a conquista veio somente na última rodada, quando o clube carioca venceu o Grêmio por 2 a 1, diante de um público recorde de 85 mil pessoas.

Libertadores e Brasileiro

As duas mais recentes conquistas levaram os flamenguistas à loucura. Como os gols da virada contra o River Plate aconteceram somente perto do final da partida, Silvio diz que quase passou mal. “Quando acabou eu tive vontade de sair gritando. Acordei todo mundo em casa. Até chorei”, confessa.

No domingo ele já esperava a conquista do título do Brasileiro. Acordou faltando poucos minutos para acabar o jogo do Palmeiras: “Quando vi o resultado já fiquei doido”.

Já Yano fala que como o Flamengo não conseguia reverter o resultado, achou que ia perder a Libertadores. “Por isso considero o gol de empate o mais importante, porque já levaria a uma prorrogação. O segundo gol foi uma consequência natural”, avalia o tradutor.

Para Yano, naquele domingo o Flamengo não precisou fazer nada para ser campeão. “Dois títulos tão importantes e em sequência acho que é muito raro”, pondera.

Alguns ítens da coleção de Brito (Crédito:Arquivo Pessoal/Cedida)

Apesar da derrota parcial diante do time argentino, Gambá acreditava no empate, mas a virada o surpreendeu: “Minha mulher achou que ia dar um enfarte em mim”, brinca. O título do Brasileiro, apesar de comemorado, já era aguardado. “O campeonato já estava na mão”.

No dia da decisão da Libertadores, Brito Black estava indo apitar jogos num evento em Nagoia. Um aplicativo no celular vibrou avisando do gol de empate, o que já lhe animou. Pouco depois o celular vibrou de novo, avisando do segundo gol de Gabigol. “Eu ainda estava no carro. Imagina um preto doido, gritando, sozinho”, brinca.

Domingo ele acordou mais cedo, só para “secar” o Palmeiras. E valeu a pena: “Aquilo foi o ápice”, finaliza o torcedor.