E combatendo a intolerância
No dia 17 de maio, comemorei meu aniversário.
É sempre um dia de alegria, reflexão e gratidão pela vida.
Porém, há outra razão pela qual essa data é especial e digna de comemoração: o Dia Internacional contra a LGBTfobia.
Esta coincidência me permite fazer duas celebrações, a pessoal e a social, em um compromisso renovado e público contra qualquer forma de discriminação.
Em um mundo onde a intolerância ainda persiste e teima em fazer novas vítimas, reafirmo minha posição firme e inabalável contra o preconceito.
Morando no Japão há mais de 20 anos, por diversas vezes fui alvo de preconceito e discriminação racial. Situações que me marcam até hoje.
Marco histórico
O Dia Internacional contra a LGBTfobia, também conhecido como IDAHOTB (International Day Against Homophobia, Transphobia, and Biphobia), foi criado em 2004 para chamar a atenção para a violência e a discriminação sofridas por pessoas LGBTQIA+ em todo o mundo.
A escolha do dia 17 de maio não foi aleatória: em 1990, nesta data, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID).
Este foi um marco histórico que simbolizou o reconhecimento de que a homossexualidade não é uma doença, e sim uma variação natural da sexualidade humana.
Luta Contra a Intolerância
Desde a sua criação, o Dia Internacional contra a LGBTfobia tem sido uma oportunidade crucial para aumentar a conscientização sobre os desafios que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta diariamente.
Embora tenhamos feito progressos significativos nas últimas décadas, a LGBTfobia – em suas formas homofóbica, transfóbica e bifóbica – ainda é uma realidade dolorosa para muitos.
A discriminação se manifesta de várias maneiras: desde agressões físicas e verbais até a exclusão social e econômica.
Em muitos países, a orientação sexual e a identidade de gênero ainda são motivos de perseguição, violência e até morte.
Mortes no Mundo
Em alguns países, a homossexualidade é punida com a pena de morte. Esses países incluem Arábia Saudita, Brunei, Iêmen, Irã, Mauritânia e Nigéria.
A pena é aplicada de diferentes formas, como forca, decapitação ou apedrejamento. Além disso, em alguns casos, a lei se aplica apenas aos homens.
Em 2022, o Brasil registrou 273 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+. Isso significa que, em média, uma pessoa LGBTQIA+ foi assassinada a cada 34 horas no país.
Travestis, mulheres trans e gays entre 20 e 39 anos estão entre os principais alvos da LGBTIfobia no Brasil.
No ano passado, o Brasil teve 257 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+. O país manteve sua posição como o mais homotransfóbico do mundo.
A maioria das vítimas era jovem, com idades entre 19 e 45 anos. Travestis ultrapassaram em número absoluto as mortes de gays, o que é outro dado preocupante.
A vida das pessoas LGBTQIA+ no Japão também não é fácil. A discriminação e exclusão dentro da sociedade e até mesmo dentro de seus próprios círculos familiares e sociais são uma realidade constante.
Compromisso Público
Nesta data de duplo significado para mim, reflito sobre o privilégio que é viver em um ambiente onde posso ser eu mesmo e expressar minhas crenças livremente.
No entanto, tenho plena consciência de que essa não é a realidade para todos. Minha comemoração pessoal é inseparável do reconhecimento das lutas contínuas de muitos outros.
Assim, quero usar este Editorial para reafirmar minha oposição total e absoluta a qualquer forma de discriminação.
Acredito firmemente que todos nós, independentemente de nossa orientação sexual ou identidade de gênero, merecemos respeito, dignidade e igualdade de oportunidades.
Como sociedade, devemos nos comprometer a criar um ambiente onde a diversidade seja celebrada e não apenas tolerada. Onde o amor, em todas as suas formas, seja reconhecido como o que realmente é: uma expressão legítima da condição humana.
Avanços e Desafios
Nas últimas décadas, temos visto avanços notáveis.
A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em muitos países, o reconhecimento de direitos civis para pessoas trans, e a crescente aceitação social da diversidade sexual são sinais de progresso.
Movimentos de direitos civis, ativistas corajosos e aliados comprometidos têm desempenhado um papel crucial em promover a mudança.
Contudo, o caminho ainda é longo e cheio de desafios. A retórica de ódio e os crimes motivados por LGBTfobia estão em alta em várias partes do mundo.
Leis discriminatórias continuam a existir, e a aceitação social varia drasticamente de uma região para outra.
Além disso, pessoas LGBTQIA+ enfrentam taxas mais altas de problemas de saúde mental, muitas vezes exacerbados pela discriminação e exclusão social.
Um dos caminhos mais eficazes para combater a LGBTfobia é através da educação e conscientização. Precisamos educar as futuras gerações sobre a importância do respeito e da empatia.
Precisamos desafiar estereótipos e preconceitos que são muitas vezes enraizados na ignorância.
A visibilidade e a representação também são cruciais: quando pessoas LGBTQIA+ são vistas e ouvidas em todos os setores da vida pública, se torna mais difícil ignorar sua humanidade e direitos.
Papel dos Aliados
Como aliados, temos a responsabilidade de apoiar ativamente a comunidade LGBTQIA+.
Isso significa mais do que apenas não ser homofóbico ou transfóbico; significa ser proativo em criar um ambiente seguro e acolhedor.
Significa usar nossa voz para defender aqueles que são marginalizados e lutar contra a injustiça sempre que a encontrarmos.
É necessário ouvir e amplificar as vozes das pessoas LGBTQIA+, reconhecendo que a experiência delas é única e que têm muito a nos ensinar sobre resiliência, coragem e amor.
Acredito que estamos no caminho certo, embora haja muito trabalho a ser feito. As gerações mais jovens estão crescendo com uma mentalidade mais aberta e inclusiva, e isso é um sinal positivo para o futuro.
A mudança está acontecendo, e cada um de nós tem um papel a desempenhar para garantir que ela continue.
Minha mensagem final é simples: todos merecem viver suas vidas livremente, sem medo de discriminação ou violência.
O amor deve ser celebrado, não condenado. A diversidade deve ser vista como uma força, não como uma ameaça.
E a humanidade compartilhada deve sempre prevalecer sobre o preconceito e a intolerância.
Faça a diferença
O Dia Internacional contra a LGBTfobia me lembra da importância de continuar lutando por um mundo onde todos sejam tratados com dignidade e respeito.
Juntos, podemos fazer a diferença. Juntos, podemos criar um futuro onde a LGBTfobia seja uma relíquia do passado e o amor, em todas as suas formas, seja celebrado.
Vamos celebrar a vida, a diversidade e o amor.
E acima de tudo, vamos continuar lutando contra a discriminação em todas as suas formas.